Homilia do D. Henrique Soares da Costa, Domingo de Páscoa

Veja a homilia do D. Henrique Soares da Costa.

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O CREDO por São Tomas de Aquino

A Equipe Sancti Ecclesia está se dedicando a expôr esse trabalho, o Credo apostólico explicado parte por parte por São Tomas de Aquino, a cada dia um novo artigo.

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terça-feira, 26 de abril de 2011

II Artigo - Creio em Jesus Cristo, Seu Filho Único, Nosso Senhor.

Não é somente necessário crerem os cristãos que existe um só Deus, e que Ele é Criador do céu, da terra e de todas as coisas, mas também é necessário crerem que Deus é Pai e que Cristo é seu verdadeiro Filho.

Esse mistério não é um mito, mas uma verdade certa e comprovada pela palavra de Deus no monte, conforme a afirmação de S. Pedro:”Porque não foi baseando-nos em fábulas engenhosas que vos demos a conhecer o poder e a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos visto a Sua Majestade com os nossos próprios olhos. Porque Ele recebeu de Deus-Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foram dirigidas estas palavras: 'Este. é meu Filho muito amado, em quem pus as minhas complacências'. E nós mesmos ouvimos voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo (2 Ped 1,16-18)

O próprio Jesus Cristo muitas vezes chama a Deus como seu Pai e, também, denominava-se Filho de Deus. Os Apóstolos e os Santos Padres colocaram entre os artigos de fé que Jesus Cristo é Filho de Deus, quando definiram este artigo do Credo: E em Jesus Cristo seu Filho, isto é, Filho de Deus.

Mas existiram alguns heréticos que acreditaram nessa verdade da fé, de um modo perverso:

1- Fotino, um deles, declarou que Cristo não é filho de Deus senão como os outros homens bons o são, os quais, por viverem bem, merecem ser chamados filhos de Deus por adoção, enquanto fazem a vontade de Deus. Do mesmo modo, dizem eles, Cristo, que viveu bem e fez a vontade de Deus, mereceu ser chamado FIlho de Deus. O mesmo herético queria que Cristo não tivesse existido antes da Virgem Maria, mas que só começasse a existir quando nela roi concebido .

Cometeu Fotino dois erros: um, porque não disse que Ele era Filho de Deus segundo a natureza; o outro, porque disse que Ele começou a existir, conforme todo o seu ser, no tempo, enquanto a nossa fé afirma que Ele é por natureza Filho de Deus e eterno. Ora, essas duas verdades encontram-se claramente expressas na Sagrada Escritura, opostas que são ao que ele afirma.

Contra o primeiro erro, declara a Escritura que Jesus Cristo não só é Filho de Deus, mas também Filho Unigênito: O Unigênito que está no seio do Pai é que O fez conhecido (Jo 1,18).

Contra o segundo, lê-se: Antes de Abraão existir, eu já existia (Jo 8,58). Ora, é certo que Abraão existiu antes da Virgem Maria.

Por esse motivo, os Santos Padres acrescentaram, em outro símbolo, contra o primeiro erro: Filho de Deus Unigênito; e, contra o segundo: nascido do Pai antes de todos os séculos.

2- Sabélio embora tivesse dito que Cristo existiu antes da Virgem Maria, afirmou que a Pessoa do Pai outra não era que a do Filho, e que o próprio Pai se encarnou. Desse modo, a Pessoa do Pai seria a mesma que a do Filho. Mas isso é um erro, porque destrói a trindade das Pessoas.

Contra esse erro, há a autoridade do Evangelista S. João, que nos relatou as palavras do próprio Cristo: Eu não sou Eu só; sou Eu e o Pai que me enviou (Jo, 8,16). Ora, é evidente que ninguém pode ser enviado por si mesmo. Eis porque Sabélio errou.

Acrescentou-se, por isso, no Símbolo dos Padres: Deus de Deus, luz de luz, isto é, Deus Filho de Deus-Pai; Filho que é luz, luz que procede do Pai, que tambem é luz. É nessas verdades que devemos crer.

3-Ario, embora tivesse afirmado que Cristo existira antes da Virgem Maria e que era
uma Pessoa do Pai, outra, a do Filho, atribuiu, ao ser de Cristo, três erros: primeiro, que Cristo foi criatura; segundo, que Ele foi feito por Deus como a mais nobre das criaturas, não desde a eternidade, mas no tempo; terceiro, que não havia uma só natureza de Deus-Filho com Deus-Pai, e, por esse motivo, Cristo não era verdadeiro Deus.

Tais afirmações são evidentemente errôneas porque contrárias à autoridade da Sagrada Escritura. Lê-se no Evangelho de S. João: Eu e o Pai somos um (10 10,30), isto é, pela natureza. Ora, como o Pa-i sempre existiu, do mesmo modo o Filho; como o Pai é verdadeiro Deus, assim também o Filho.

Em oposição à afirmação de Ario, isto é, que Cristo é criatura, está declarado no Símbolo dos Padres: gerado, não feito. Contra o erro propalado de que Ele não era da mesma substância do Pai, foi acrescentado no Símbolo: consubstancial com o Pai.

Está, pois, esclarecido porque devemos crer que Cristo é o Filho Unigênito de Deus
e verdadeiro Filho de Deus; que sempre existiu com o Pai; que uma é a Pessoa do Filho, outra, a do Pai; que Ele tem uma só natureza com o Pai.

Cremos nessas verdades aqui, pela fé; conhecê-Ias-emos, porém, na vida eterna, por uma perfeita visão. Graças a Deus!

Para nossa consolação, acrescentemos algumas palavras a essas verdades.
Devemos saber que há diversos modos de geração, conforme a diversidade dos seres. A geração em Deus, é diferente da geração nos outros seres. Por isso, não podemos chegar a conhecer a geração de Deus, senão por meio da geração das criaturas que mais se aproximam de Deus e que mais se assemelham a Ele. Ora, como foi dito, nada se assemelha tanto Deus, como a alma humana.

Há, na alma, uma espécie de geração, quando o homem conhece alguma coisa pela própria alma, que se chama concepção intelectiva. O conceito (efeito da concepção) tem a sua origem da própria alma, como de um pai. Chama-se verbo (isto é, palavra mental) da inteligência ou do homem. A alma, portanto, gera o seu verbo pelo conhecimento.

O Filho de Deus, também, nada mais é que o verbo de Deus, não como se fosse um verbo (uma palavra) já pronunciado exteriormente, porque assim seria transitório, mas como um verbo (uma palavra mental) concebido no interior. Desse modo este verbo de Deus possui a própria natureza de Deus, e é igual a Deus.

O Bem-aventurado João, quando falou do Verbo de Deus, destruiu as três heresias acima definidas: a de Fotino, quando disse: No princípio já existia o Verbo; a de Sabélio, quando disse: e o Verbo estava em Deus; e a de Ario, quando disse: " e o Verbo era Deus.

Mas o verbo (a palavra mental) existe diversamente em nós e em Deus. Em nós, o verbo é um acidente; em Deus, o Verbo de Deus identifica-se mais com o próprio Deus, pois nada há em Deus que não seja a essência de Deus. Ninguém pode afirmar que Deus não possui um verbo, porque, se o fizesse, estaria também afirmando que em Deus não há absolutamente conhecimento.

Como, além disso, Deus sempre existiu, assim também o Verbo.

Como o artista executa as suas obras de acordo com o modelo que prefigurou em sua inteligência, que é o seu verbo; assim também Deus faz todas as coisas pelo seu Verbo, que é como Seu pensamento artístico. Por isso lê-se em São João: as coisas foram feitas por Ele(Jo 1,3).

Se o Verbo de Deus é o Filho de Deus e todas as palavras de Deus possuem alguma semelhança com esse verbo, todos nós devemos, em primeiro lugar, ouvir com satisfação as palavras de Deus. Se ouvirmos com prazer as palavras de Deus, isto é sinal de que amamos a Deus.

Em segundo lugar, devemos crer nas palavras de Deus porque é assim que o Verbo de Deus habita em nós, isto é, Cristo, que é o Verbo de Deus. Lê-se no Apóstolo S. Paulo: Habitar Cristo, pela fé, em vossos corações (Ef 3,17). Lê-se também em João: Não tendes o Verbo de Deus permanecendo em vós porque não acreditais nAquele que Ele enviou (Jo 5,38).

Em terceiro lugar, convém que sempre tenhamos o Verbo de Deus, que permanece em nós, como objeto das nossas meditações. Não é conveniente apenas crer, mas é necessário também meditar, pois, de outro modo, a fé não nos seria útil. A meditação sobre o Verbo de Deus é muito útil contra o pecado. Lê-se nos Salmos: Escondi no meu coração a Vossa palavra, para não pecar contra vós (SI 118,11). Lê-se, ainda, a respeito homem justo: Meditarei dia e noite na Sua Lei (SI 1,2). Por isso sabemos que a Virgem Maria conservava todas essas palavras, meditando sobre elas no seu coração (Lc. 2,51).

Em quarto lugar, convém que o homem comunique aos outros a palavra de Deus, admoestando, pregando-a para eles e afervorando-lhes a fé. Encontram-se nas cartas de S. Paulo os seguintes textos: Que nenhuma palavra má proceda da vossa boca, mas somente as boas palavras que edificam (Ef 4,29); Que a palavra de Cristo habite em vós abundantemente, com toda sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros (Col 3,16); Prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, pede e ameaça com toda a paciência e com toda doutrina (2 Tes 4,2).

Em último lugar, devemos cumprir o que a palavra de Deus determinou. Lê-se em S. Tiago: Sede realizadores da palavra de Deus e não apenas ouvintes (Tgo 1,22).

Na mesma ordem, a Bem-aventurada Virgem Maria seguiu essas cinco recomendações, quando nela foi gerado o Verbo Deus:

Primeiramente, ouviu: O Espírito Santo virá sobre ti (Lc.1,35). Depois, consentiu pela fé : Eis a escrava do Senhor (Lc. 1,38). Em terceiro lugar, recebeu o Verbo Encarnado e O carregou em seu seio. Em quarto lugar, ela O pronunciou quando a Ele deu a luz. Finalmente, nutriu-O e amamentou-O. Eis porque a Igreja canta: A Virgem amamentava, fortalecida do céu, o próprio Rei dos Anjos.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

I Artigo - Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra

Primeiro Artigo:

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra

Entre todas as verdades nas quais os fiéis devem acreditar, em primeiro lugar devem acreditar que Deus existe. Convém, além disso, considerar o que significa este nome – Deus. Significa precisamente Aquele que governa e cuida de todas as coisas. Acredita, por conseguinte, na existência de Deus, quem acredita que todas deste mundo são por Ele gpvernadas, e estão subordinadas à sua Providência. Mas quem pensa que todas as coisas originam-se do acaso, não acredita de Deus.

Não há ninguém tão insensato que creia que a natureza não seja governada, que não esteja submetida a uma providência e que não tivesse sido ordenada por alguém, vendo que tudo se processa a seu tempo, com ordem. Vemos o sol, a lua e as estrelas, e muitos outros elementos sa natureza obedecerem a um determinado curso. Ora, isso não aconteceria se tudo viesse do acaso.

Eis porque seria um insensato o que não acreditasse na existência de Deus. Tal asserção é confirmada pelo salmista: O insensato diz em seu coração: não há Deus (Sl 13,1).

Há alguns que acreditam que Deus governa e ordena as coisas naturais, mas não acreditam que Deus atinja, pela Sua Providência, os atos humanos. Evidentemente pensam que os atos humanos não são ordenados por Deus. Porque veêm no mundo os bons sofrerem e os maus prosperarem, concluem que a Providência Divina não atinge os homens. Por eles falou Jó: Deus anda pelos caminhos do céu, mas não cuida de nós (22,14)

Afirmar tal coisa é grande insensatez. Acontece com os que assim pensam, o que acontece àqueles que vendo o médico bom conhecedor de medicina dar a um doente água e a outro, vinho, julgassem, no seu desconhecimento da medicina, que o médico estava curando por acaso, e não, por motivo ponderado. Deus também age como o médico. Por motivo justo e pela sua Providência dispõe Ele as coisas necessárias para os homens, quando aflige alguns bons e permite que alguns maus prosperem.

Quem acreditasse que isso fosse obra do acaso, evidentemente seria um insensato, como de fato o é. Assim, pensa, porque desconhece a maneira de Deus agir e a razão pela qual dispõe as coisas. Lê-se também em Jó:Oxalá Ele te revele os segredos da sua sabedoria e a multiplicidade dos seus planos(11,6). Por conseguinte, deve-se crer firmemente que Deus governa e ordena as coisas naturais e também os atos humanos. Lê-se no Livro dos Salmos: Disseram os maus: Deus não vê. O Deus de Jacó não percebe as coisas. Compreendei agora, é néscios! Ó estultos, até quando sereis insensatos? Aquele que nos deu as orelhas, não ouve? Aquele que nos pôs os olhos, não vê? O Senhor conhece os pensamentos dos homens(93,7 -10).

Deus vê todas as coisas, os pensamentos e os sgredos das vontades dos homens. Já que tudo o que pensam e fazem está patente aos olhos de Deus, os homens, de modo muito especial, são obrigados a praticar o bem. Escreve São Paulo aos Hebreus: Tudo está nu e descoberto aos seus olhos(4,13).

Deve-se acreditar que este Deus, que dispõe todas as coisas e as rege, é um só Deus. A razão por que devemos acreditar nessa verdade é a seguinte: o governo das coisas humanas é um bom governo, quando um só as dispõe e as governa.

Uma multiplicidadede dirigentes constantemente provoca dissensões entre os súditos. Ora, como o governo divino é superior ao humano, torna-se claro que o governo do mundo não pode ser feito por muitos deuses, mas por um só.

Os homens são levados ao Politeísmo por quatro motivos.

O primeiro, é a fraqueza da inteligência humana.

Há homens, cuja fraqueza de inteligência não lhes permitiu ir além das coisas corpóreas, e, por isso, não acreditaram na existência de alguma natureza superior aos seres corpóreos. Pensaram então que, entre aqueles seres corpóreos, os mais belos e mais dignos deveriam presidir e dirigir o mundo, e prestaram a eles um culto divino. Consideraram, como sendo os corpos mais sublimes, os astros do céu: o sol, a lua e as estrelas.

Acontece com eles o que aconteceu com aquele homem que, desejando ver o rei, foi à corte, e confundiu com o rei o primeiro que encontrou bem vestido, ou exercendo alguma função de ministro. Refere-se a esses o Livro da Sabedoria: consideraram o céu, a lua e as estrelas, como deuses que governam o universo (13,2). Lê-se também no Livro do Profeta Isaías: Levantai bem alto os olhos, e vede a terra por baixo. Os céus evaporar-se-ão como a fumaça, a terra envelhecerá como as vestes e os seus habitantes perecerão como ela. Mas a minha salvação será eterna, e a minha justiça não terá fim (51.6).

O segundo motivo, é a adulação dos homens. Muitos desejando adular os reis e os senhores, tributaram-lhes a honra devida a Deus. Obedeceram e se submeteram a eles. Houve quem os endeusasse após a morte, e houve os que os endeusaram tam- bém em vida. Lê-se na Escritura: Todos saibam que Nabucodonosor é deus da terra, e além dele outro deus não há (dt 5,29).


O terceiro motivo provém da afeição carnal para os filhos e parentes. Alguns, levados por excessivo amor pelos parentes. levantaram-lhes estátuas após a morte, e, assim, foram conduzidos a prestar culto divino àquelas estátuas. É a eles que se refere a Escritura: Deram os homens às pedras e à madeira um nome incomunicável, porque submeteram-se demais à afeição aos reis (Sab 14,21).

A quarta razão, pela qual os homens são levados a acreditar na existência de muitos deuses, é a malícia do diabo. Este, desde o início, quis ser igual a Deus: Colocarei meu trono no Aquilão, subirei aos céus e serei semelhante ao Altíssimo (Is 14,13). Até hoje ele não revogou essa vontade. Por isso esforça-se o mais possível para que os homens o adorem e lhe ofereçam sacrifícios. Não lhe satisfaz o ofertório de um cão ou de um gato, mas deleita-se quando lhe é prestado o culto devido a Deus.

Disse o demônio a Cristo: Dar-te-ei tudo isto se de joelhos me adorares (Mt 4,9). Para que fossem adorados como deuses, os demônios entraram nos ídolos e por meio destes davam respostas. Lê-se na Escritura: Todos os deuses dos povos são demônios (Sl, 95,5); Quando os gentios oferecem sacrifícios, fazem-no aos demônios, não a Deus (1 Cor 10,20).

É muitíssimo desagradável a consideração dessas quatro causas do politeísmo, mas representam realmente as razões pelas quais os homens acreditam na existência de muitos deuses.

Muitas vezes eles não manifestam pelas palavras ou pelo coração que acreditam em muitos deuses, mas pelos atos. Aqueles que acreditam que os astros podem modificar a vontade dos homens, que para agir esperam certas épocas, naturalmente consideram os astros como deuses que dominam os outros seres e fazem prodígios.

Por isso somos advertidos pela Escritura: Não temei os sinais dos astros que os gentios temem, porque as suas leis são vãs (Jer 10,2). Também aqueles que obedecem aos reis, ou a quem não devem obedecer, mais que a Deus, constituem a essas pessoas como os seus deuses.

Também aqueles que obedecem aos reis, ou a quem não devem obedecer, mais que a Deus, constituem a essas pessoas como os seus deuses. Adverte-nos também a Escritura: Convém mais obedecer a Deus que aos homens (At 5,29).

Assim também os que amam os filhos e os parentes mais que a Deus, revelam pelos atos que acreditam em muitos deuses. Ou mesmo aqueles que amam mais os alimentos que a Deus, aos quais se refere S. Paulo com estas palavras: Dos quais o ventre é deus (Fi! 3,19).

Os que praticam a feitiçaria e se entregam aos sortilégios acreditam nos demônios como se eles fossem deuses, porque pedem aos demônios o que só se pode pedir a Deus, como sejam revelações e conhecimentos de coisas secretas ou futuras.

Como tudo isso é falso, devemos, acima de tudo, acreditar que há um só Deus.

Como dissemos, deve-se primeiramente acreditar que há um só Deus. Em segundo lugar, deve-se acreditar que este Deus é criador, que fez o céu e a terra, as coisas visíveis e invisíveis.

Deixemos, por ora, de lado, os argumentos sutis e, por meio de um exemplo bem simples, esclareçamos como todas as coisas foram criadas e feitas por Deus: Se alguém indo a uma casa e desde a porta fosse sentindo calor e cada vez que mais nela penetrasse mais calor sentisse, evidentemente perceberia que havia fogo no seu interior, mesmo que não estivesse vendo o fogo. Acontece o mesmo conosco ao considerarmos as coisas deste mundo. Todas as coisas estão ordenadas conforme diversos graus de beleza e de nobreza, e quanto mais estão próximas de Deus, tanto melhores e mais belas são. Ora, os astros são mais nobres e mais belos que os corpos inferiores; as coisas invisíveis, que as visíveis. Deves então acreditar que todas as coisas têm a origem num só Deus, que lhes dá a existência e a perfeição.

Lê-se na Sagrada Escritura: São insensatos todos os homens que não conhecem a Deus, e que pelas coisas que viam, não compreenderam Aquele que existe, nem vendo as obras, não conheceram o artista (Sab 43,1). Lê-se no mesmo contexto: Pela beleza e grandeza da criatura se pode conhecer e contemplar seu criador (43,5).

Devemos, portanto, ter por certo que todas as coisas foram criadas por Deus.

Com relação a isso, três erros devem ser evitados

O primeiro, é o erro dos Maniqueus
: Para eles, as coisas visíveis foram criadas pelo diabo, e só as invisíveis, por Deus.

Fundamentam o seu erro numa verdade, que Deus é o sumo bem e tudo o que por ele é feito, por ser bom, deve ser bom também; mas não distinguindo o bem do mal, creram eles que tudo o que de certo modo tivesse algo de mal, seria totalmente mal.
Dizem que o fogo é totalmente mal, porque queima; que a água é má, porque afoga; e, assim, das outras coisas que produzem um efeito mau. Ora, como nenhuma das coisas sensíveis é simplesmente boa, mas de certo modo má e deficiente, concluÍram que todas as coisas visíveis não foram feitas por Deus que é bom, mas sim por um ser mau.

Para refutá-los Santo Agostinho apresentou o seguinte exemplo: se alguém entrasse na casa de um operário e aí encontrasse uma ferramenta que o ferisse, e, por esse motivo, concluísse que o operário era mau, porque usa tais ferramentas, seria um tolo, porque ele as usa tão somente para o trabalho. Eis porque é tolice dizer que as criaturas são totalmente más, porque em algum aspecto são nocivas. Podem elas ser nocivas para uns, mas úteis, para outros.

Esse erro vai contra a fé da Igreja, pois recitamos no Credo: Criador das coisas visíveis e invisíveis. . Fundamenta-se essa verdade na Escritura: No princípio Deus criou o céu e a terra (Gên 1,1). Todas as coisas foram feitas por Ele (2 Ped3,4).

O Segundo erro que deve ser evitado é o dos que afirmam que o mundo é eterno. Coloca São Pedro na boca dos que asim falam, estas palavras: Desde que nossos pais morreram, tudo permanece como depois do começo da criação(2 Ped. 3,4).

Foram levados a essa convicção porque não souberam considerar bem I início do mundo. O Rabi Moisés comparou-os a uma criança que desde o nascimento fora levada para uma ilha onde nunca pôde ver uma mulher grávida, nem o nascimento de um homem. Se quando crescesse lhe fosse dito como um homem é concebido, como é carregado por nove meses no seio materno e como nasce, não acreditaria no que estava, porque lhe pareceria ser impossível um homem ser gerado no seio materno. Do mesmo modo comportam-se os que pensam que o mundo é eterno, porque não lhe viram o começo.

Quem pensa assim está também em oposição à fé da Igreja, pois recitamos no Credo a verdade: Creio em Deus ... que fez o céu e a terra. Ora, se as coisas foram feitas, é claro que não poderiam ter sempre existido. Lê-se na Escritura: Deus disse, e as coisas feitas (SI 148,5).

O Terceiro erro a respeito da origem do mundo é seguido por aqueles que afirmam ter sido o mundo feito de uma matéria preexistente. Chegaram a esse erro, porque quiseram medir o de Deus pelo nosso. Como o homem nada pode fazer uma matéria preexistente, assim também Deus para produzir as coisas teria usado de uma matéria que já existia. Isso é verdadeiro. O homem nada pode fazer sem uma matéria pré existente, porque a sua capacidade de operação é limitada,e, assim, só pode dar forma a uma matéria que já exista. O seu poder está limitado para operar só para esta forma, e, por isso, .pode ser causa senão dela. Deus, porém, é a causa universal de todas as coisas, e não só cria a forma, mas também a matéria. Por isso fez todas as do nada. Recitamos no Credo essa verdade: criador do céu e da terra.

Há diferença entre criar e fazer: criar, é tirar alguma coisa do nada e fazer, é produzir uma coisa de outra coisa.

Se Deus criou as coisas do nada, deve-se também acreditar ele pode refazê-Ias todas, se elas forem destruídas. Pode ista a um cego, ressuscitar um morto e fazer outros milagres. Diz a Escritura: O poder está a Vós submetido, quando quereis (Sab 12,18).

Das verdades acima enunciadas podemos tirar cinco conclusões práticas: Em primeiro lugar, como devemos considerar a divina majestade.

Se o artista é superior às obras, Deus, sendo o artista criador de todas as coisas, evidentemente é superior a tudo o que existe. Diz a Escritura: Se os homens atraídos pela beleza dos seres consideraram-nos deuses, saibam em quanto o Senhor deles é mais belo que eles ... ; ou se ficaram admirados pelo poder dos seres e pelas obras que produzem, compreendam como aquele que os fez é mais poderoso (Sab 13,34). Por isso tudo, o que podemos compreender ou pensar de Deus é inferior a Ele! Diz a Escritura: Eis o Deus grandioso que está acima de nossa ciência (Job 36,26).

Em segundo lugar, devemos dar graças a Deus.

Porque Deus é o criador de todas as coisas, tudo o que somos e tudo o que temos, nos vem de Deus. Diz o Apóstolo: O que tens, que não recebeste? (1 Cor 4,7). Lê-se no Saltério: Do Senhor é a terra e tudo o que a enche; o mundo e todos os seus habitantes. (SI 23,1). Por isso devemos sempre render graças a Deus: Que retribuirei ao Senhor, por tudo o que Ele me deu? (SI 115,12).

Em terceiro lugar, devemos suportar as adversidades com paciência.

Pois se todas as criaturas vêm de Deus, e por isso são boas por natureza, mesmo se em alguma coisa nos prejudicam se nos trazem penas, devemos acreditar que essas penas foram enviadas por Deus. A culpa nossa, porém, não pode vir de Deus, porque nenhum mal pode vir de Deus, a não ser que ele seja dirigido para um bem. Ora, se toda pena que nos vem é enviada por Deus, devemos pacientemente suportá-Ia. As penas nos purificam dos pecados, humilham os réus, desafiam os bons para o amor de Deus. Lê-se no livro de Jó: Se recebo os bens das mãos de Deus, porque não recebo também os males? (Job 2,10).

Em quarto lugar, devemos usar bem das coisas criadas.

As coisas devem ser usadas conforme as finalidades que lhes foram dadas por Deus. As coisas foram criadas para dois fins: para a glória de Deus, porque todas as coisas para Si mesmo Deus as fez (Prov 16,4), e para nossa utilidade, porque Deus fez todas as coisas para servirem aos povos (Dt 4,19).

Devemos usar de todas as coisas para a glória de Deus, e muito Lhe agradaremos com isso, mas também, para nossa utilidade, evitando sempre o pecado. Diz a Escritura: De vós são todas as coisas e o que recebemos das vossas mãos, vos damos (1 Par 29,14). O que quer que possuas, seja a ciência, seja a beleza, tudo deves usar e dirigir para a glória de Deus.

Em quinto lugar, porque fomos criados por Deus, devemos reconhecer a nossa dignidade.

Deus fez todas as coisas para o homem, como se lê na Escritura: Todas as coisas submetestes aos seus pés (SI 8.8). O homem, depois dos anjos, é a criatura que mais se assemelha a Deus, como se lê no livro do Gênesis: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança (1,16). Não se referiu Deus neste texto nem às estrelas, nem aos céus, mas ao homem.

Não é, porém, pelo corpo, mas pela alma, que possui vontade livre e é incorruptível, que o homem mais se assemelha a Deus que às outras criaturas. Devemos, pois, considerar que o homem é, depois dos Anjos, a mais digna de todas as outras criaturas, e, por conseguinte, de maneira nenhuma queiramos diminuir essa nossa dignidade pelo pecado ou por algum desejo desordenado de coisas corpóreas, pois elas são inferiores a nós e foram feitas para nos servir.

Que nos comportemos de acordo com os desígnios de Deus ao nos criar. Deus fez o homem para governar tudo o que há na terra, mas para que o homem ficasse submetido a Ele. Devemos, por isso, dominar e governar o mundo, mas nos submetendo a Deus, a Ele obedecendo e servindo. Por esse caminho certamente chegaremos à união com Deus. Assim seja.

domingo, 24 de abril de 2011

Homilia do D. Henrique Soares da Costa – Domingo de Páscoa – Ano A




At 10,34a.37-43

Sl 117
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,7b.-8a
Jo 20,1-9 ou, à tarde, Lc 24,13-35
Hoje é o dia mais solene do ano: é a Páscoa!

Aquele que vimos envolto em sangue, tomado pelas dores da morte na Sexta-feira, Aquele que velamos respeitosamente no silêncio da morte no Sábado, agora proclamamo-lo Ressuscitado, Vivo, Vitorioso!

Hoje pela manhã, “quando ainda estava escuro”, nossas irmãs foram ao túmulo e encontraram-no aberto e vazio! Elas correram apavoradas: foram contar ao nosso líder, Simão Pedro. Ele foi também ao túmulo com o outro discípulo, aquele que Jesus amava: viram as faixas de linho no chão… O túmulo estava vazio… O que acontecera? Roubaram o corpo? Os judeus levaram-no? Que houve? Que ocorrera?

Na tarde de hoje, dois outros irmãos nossos estavam voltando para Emaús, sem esperança nenhuma: voltavam para sua vida de cada dia… estavam deixando a Comunidade dos discípulos, a Igreja que ia nascer: Jesus morrera, tudo acabara, a esperança fora embora… Mas, um Desconhecido começou a caminhar com eles, e lhes falava sobre tudo quanto a Escritura havia predito a respeito do Messias: sua pregação, suas dores, sua derrota, sua morte, sua vitória final… E o coração daqueles dois começou a encher-se de nova esperança, a arder de alegria! Eles, agora, começavam a compreender: tudo quanto havia acontecido com Jesus não fora simplesmente um cego absurdo, uma loucura, um sinal de maldição! Tudo fazia parte de um incrível projeto de amor do Pai: “Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” E, o que é mais impressionante: ao sentarem-se à mesa, o Desconhecido tomou a iniciativa, não esperou o dono da casa: pegou o pão e deu graças, partiu-o…. Coisa impressionante, irmãos: os olhos daqueles dois se abriram, e eles o reconheceram: era Jesus! Jesus vivo! Jesus reconhecido nas Escrituras e no partir o pão! Como mais uma vez, acontecerá agora, nesta Missa! Os dois voltaram, imediatamente a Jerusalém e, lá, a alegria foi maior ainda: os apóstolos confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão Pedro!”

Irmãos, por esta fé nós vivemos, por esta fé somos cristãos, por esta fé empenhamos a vida toda! Neste Dia santíssimo, Jesus entrou na glória do Pai. Nós continuamos aqui; ele já não mais está preso a dia algum, a tempo algum, a limitação alguma: ele entrou na eternidade de Deus, na plenitude do seu Deus e Pai! Irmãos, escutai: a Morte, hoje, foi vencida! Jesus abriu o caminho, Jesus atravessou o tenebroso e doloroso mar da Morte, Jesus entrou no Pai! Jesus “passou”, fez sua Páscoa!

Mas, não só: ele fez isso por nós, por cada um de nós: “Vou preparar-vos um lugar… a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,2-3). Ele, que morrera da nossa Morte, tem agora o poder de nos dar a sua vitória. Para isso, irmãos, ele nos deu, no Batismo, o seu Espírito de ressurreição, o mesmo no qual o Pai o ressuscitou na madrugada de hoje!

Irmãos, eis a Páscoa de Cristo e nossa! Na certeza desta vida nova, renovemos nossa própria vida! “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos para alcançar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus!” Vivamos uma vida nova em Cristo! Crer na sua ressurreição, viver sua vida de ressuscitado é, já agora, viver numa perspectiva nova, viver com o olhar a partir da Eternidade. São Paulo nos diz, para a Festa de hoje:“Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos a Festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade ou da perversidade, mas com os pães sem fermento de pureza e de verdade”. É o pão sem fermento, pão ázimo, da Eucaristia que vamos comer daqui a pouco; pão que é o próprio Cordeiro imolado, Cordeiro pascal, Cordeiro que tira o pecado do mundo! Nós vamos entrar em comunhão com ele, vivo e vencedor!

Irmãos, Irmãs!

Pelo dia de hoje, não mais tenhamos medo do pecado, da maldade e da morte!
Pela festa deste hoje bendito, abramos nosso coração a Deus e aos irmãos!
Pela Páscoa que estamos celebrando, perdoemo-nos, acolhamo-nos e demo-nos a paz!

Terminemos com as comoventes palavras da Liturgia Bizantina:

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos!
Páscoa do Senhor! Páscoa!
Cristo Deus nos fez passar
da morte à vida, da terra ao céu,
entoando o hino de sua vitória!
Purifiquemos os sentidos e veremos
a Luz inacessível da Ressurreição
a Cristo resplandecente
que diz: Alegrai-vos!

Exultem os céus e a terra.
Exulte o universo inteiro, visível e invisível:
Cristo ressuscitou. Alegria eterna!
Exultem os céus e exulte a terra,
faça festa todo o universo
visível e invisível.
Alegria eterna,
porque Cristo ressuscitou!

Dia da Ressurreição,
resplandeçamos, ó povos:
Cristo ressuscitou dentre os mortos,
ferindo com sua morte a própria morte
e dando a vida aos mortos em seus túmulos.
Ressurgindo do túmulo,
como havia predito
Jesus nos deu a vida eterna e a grande misericórdia!

Este é o Dia que o Senhor fez:
seja ele nossa alegria e nosso gozo!
Páscoa dulcíssima,
Páscoa do Senhor, Páscoa!
Uma Páscoa santíssima nos amanheceu.

Páscoa! Plenos de gozo,
abracemo-nos todos!
Ó Páscoa, que dissipas toda tristeza!
É o Dia da Ressurreição!
Irradiemos alegria por tal Festa,
abracemo-nos mutuamente
e chamemos de irmãos até àqueles que nos odeiam;
perdoemos-lhes tudo
por causa da Ressurreição,
e gritemos sem cessar dizendo:

Cristo ressuscitou dentre os mortos,
ferindo a morte com a sua morte
e dando a vida aos mortos em seus túmulos!

Amados Irmãos, queridas Irmãs, Surrexit Dominus vere! O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Feliz Páscoa!

D. Henrique Soares da Costa






Colaboração do site presbíteros, Padre Demétrio e D. Henrique Soares da Costa

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Introdução - sobre a fé

O primeiro bem necessário para o cristão é a fé. Sem a fé ninguém pode ser chamado de fiel cristão.

A Fé produz quatro bens:

1- É a união da alma com Deus. Pela fé realiza-se uma espécie de matrimônio entre a alma e Deus, conforme se lê no Profeta Oséias: Desposar -te-ei na fé(2,20). Quando o homem é batizado, deve, em primeiro lugar, confessar a fé ao responder à pergunta – Crês em Deus? - porque o Batismo é o primeiro Sacramento da Fé. O Senhor mesmo disse: O que Crer e for batizado será salvo.

O Batismo sem fé é destituído de valor. Deve-se, portanto, ter por certo que ninguém pode ser aceito por Deus sem a fé. Sem a fé é impossível agradar a Deus, diz São Paulo (Heb 11,6). Santo Agostinho, comentando este texto da carta aos Romanos Tudo o que não procede da fé é pecado (14,23), assim se expressa: Onde não existe o conhecimento da verdade eterna e imutável, a virtude é falsa mesmo nas pessoas retas.

2- Pela fé é iniciada em nós a vida eterna. E ela não consiste senão em conhecer a Deus, conforme lê-se em São João:”Esta é a vida eterna que Vos conheçam como único Deus verdadeiro”(17,3). Esse conhecimento de Deus inicia-se aqui pela fé, mas é completado na vida futura, quando O conhecemos tal como é. Por isso lê-se na carta aos Hebreus: ”A fé é a substância das coisas que se esperam (11,1). Ninguém alcançará a bem-aventurança eterna, sem que tivesse primeiramente o conhecimento da fé, pois está escrito: Bem-aventurados os que não viram e creram (Jo 20,29).

3- O terceiro bem consiste: A vida presente é orientada pela fé.

Para que o homem viva bem, é mister que conheça os princípios do bem viver. Se pelo próprio esforço devesse aprender esses princípios, ou não chegaria a conhece-los, ou só os poderia conhecer após um longo tempo. Mas a fé ensina todos os princípios do bem viver. Ora, ela ensina que há um só Deus, que Deus recompensa os bons e pune os maus, que existe uma outra vida, e outras verdades semelhantes. Esse conhecimento é suficiente para nos levar a praticar o bem e evitar o mal, pois diz o Senhor: o meu justo vive da fé

Eis porque nenhum filósofo antes de Cristo, apesar do grande esforço intelectual que despendia, pôde chegar ao conhecimento de Deus e dos meios necessários para alcançar a vida eterna, como, depois do advento de Cristo, qualquer velhinha o pôde pela fé. Eis porque Isaias prefetizou esse advento nestes termos: Encheu-se a terra da ciência de Deus.

4- Pela fé vencem as tentações , conforme lê-se nas Escrituras: Os santos pela fé venceram os reinos (Hb 11,23).

As tentações procedem do diabo, do mundo, ou da carne. O diabo tenta para que tu não obedeças nem te submetas a Deus. Ora, é pela fé que o repelimos, porque é pela fé que conhecemos que há um só Deus e que só Ele devemos obedecer. Por isso escreveu São Pedro: o diabo, vosso adversário, está rondando para ver se devora alguém: a ele deveis resistir pela fé (1 Pe 5,8).

O mundo nos tenta, seduzindo-nos na prosperidade, ou nos atemorizando nas advesidades. Mas ambas as tentações, vencemo-las pela fé. Ela nos faz crer numa vida melhor, e, por isso, desprezamos as prosperidades do mundo e não tememos as adversidades. Eis porque está escrito: Esta vitória que vence o mundo, a vossa fé(1 Jo 5,4). Além disso, a fé nos ensina a acreditar que há males maiores, isto é, que existe o inferno.

A carne nos tenta, conduzindo-nos para os deleites momentâneos da vida presente. Mas a fé nos mostra que por eles, se a eles indevidamente aderimos, perderemos os deleites eternos. Por isso nos aconselha o Apóstolo: Tende sempre nas mãos o escudo da fé. (Ef 6, 16).

Por essas razões fica provado que é muito útil ter fé.

Mas pode alguém objetar:

"É insensatez acreditar naquilo que não se vê: não se deve crer senão naquilo que se vê"

Respondo a esta objeção com os seguintes argumentos:

Primeiro: É a própria imperfeição da nossa inteligência que desfaz essa dúvida. Realmente, se o homem pudesse por si mesmo conhecer perfeitamente as coisas visíveis e invisíveis, seria insensato acreditar nas coisas que não vemos. Mas o nosso conhecimento é tão limitado que nenhum filósofo até hoje conseguiu perfeitamente investigar a natureza de uma só mosca. Conta-se até, que certo filósofo levou trinta anos do deserto para conhecer a natureza das abelhas. Ora, se a nossa inteligência é assim tão limitada, é muito maior insensatez não querer acreditar am algo, a respeito de Deus, a não ser naquilo que o homem pode conhecer d’Ele por si mesmo. Lê-se no livro de Jó Eis como Deus é grande e ultrapassa a nossa ciência.

Segundo: Considerando, por exemplo, um mestre que assimilou uma verdade e um aluno pouco inteligente que a entendeu diversamente, porque não a atingiu. Ora, esse aluno pouco inteligente deve ser considerado como bastante tolo. Sabemos que a inteligência dos Anjos ultrapassa a do maior filósofo, como a deste, a inteligência dos ignorantes. Portanto seria tolo o filósofo que não acreditasse nas coisas ditas pelos Anjos. Ele seria muito mais tolo se não acreditasse nas coisas ditas por Deus. Lê-se, a esse respeito, nas Escrituras: Foram-te apresentadas muitas verdades que ultrapassam a inteligência do homem (Ecle 3,25).

Terceiro Se o homem não acreditasse senão nas coisas que vê, nem poderia viver neste mundo. Pode alguém viver sem acreditar em outrem? Como pode tu saber que este é teu pai? É , pois, necessário que o homem acredite em alguém, quando se trata de coisas que por si só não as pode conhecer. Ora, ninguém é mais digno de fé do que Deus. Por conseguinte, os que não acreditam nas verdades da fé não são sábios, mas tolos e soberbos. São Paulo refere-se a esses como sendo – soberbos e ignorantes…(1 Tim 6,4). Por isso São Paulo diz de si: Sei em quem acreditei e tenho certeza…(2 Tim 1,12). Tudo isso é confirmado no livro do Eclesiático: Vós que temeis o Senhor, acreditai n’Ele (2,8).

Quarto Pode-se ainda responder dizendo que Deus comprova as verdades de fé. Se um rei enviasse suas cartas com o selo real, ninguém ousaria dizer que aquelas cartas não eram do próprio rei. É claro que as verdades nas quais os Santos acreditaram e que nos transmitiram como sendo de fé cristã, estão seladas com o selo de Deus. Tal selo é significado por aquelas obras que uma simples criatura não pode fazer, isto é, pelos milagres. Pelos milagres Cristo confirmou as palavras dos Apóstolos e dos santos.

Podes, porém, replicar, dizendo que ninguém viu esses milagres. É fácil responder esta objeção. É conhecido que todaa humanidade prestava culto aos ídolos e que a fé cristã foi perseguida, confirmando-o, além do mais, a história do paganismo. Converteram-se todos a Cristo, porém, em pouco tempo. Os sábios, os nobres, os ricos, os governos e os grandes converteram-se pela pregação de poucos homens rudes e pobres. Ora, não há saída: ou se conerteram porque viram milagres, ou não. Se foi porque viram milagres que se converteram, a tua objção não tem sentido. Se não o foi, respondo que não poderia haver maior milagre que esse de todos os homens converterem-se sem ter visto milagres. Deves te dar por vencido.

Eis porque ninguém pode duvidar da fé. Devemos acreditar mais nas verdades da fé do que nas coisas que vemos. Porque a vista do homem pode falhar, mas a ciência de Deus é sempre infalível.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Equipe Sancti Ecclesia


Fábio Valentim Ferreira é solteiro, Assessor de Cliente em uma empresa de moda multinacional, cursou auxiliar administrativo na CPJB - RJ. Frequenta a Paroquia São Judas Tadeu, arquidiocese de Niterói. Coordena o Sancti Ecclesia, foi coordenador do Grupo de Adolescentes na Capela Nossa Senhora Auxiliadora SG/RJ.





Jefferson Neri Marezi é solteiro, funcionário público do estado do Paraná, formado em História pela UEL e atualmente cursando Administração na FECEA. Frequenta a Paroquia Cristo Sacerdote, Diocese de Apucarana, trabalhou na Catequese (catequista e coordenador), e na Pastoral de Adolescentes tanto a nivel paroquial como Diocesano, sendo coordenador Diocesano de 2005 a 2009. No Sancti Ecclesia colabora publicando artigos sobre História da Igreja.




Ana Beatriz Cruz Silva é solteira, desenvolvedora de web, cursou sistema para internet na CEFET - RJ. Frequenta a Paroquia Nossa Senhora da Conceição, participou da pastoral do Crisma. No Sancti Ecclesia escreve artigos sobre Teologia.






Bruno Roberto Nascimento e Silva é solteiro, estudante de direito na Universidade Estadual da Paraíba. Frequenta as paróquias de Santa Rosa e do Centenário, faz parte da sociedade São Bento que luta pela celebração da Missa no Rito Tridentino e ministra cursos de Filosofia em parceria com Olavo de Carvalho. No Sancti Ecclesia colabora escrevendo artigos sobre Filosofia.





Ludwig Calixto é casado, pai de um filho, licenciado em música na UNIRIO, é produtor musical. Frequenta a Capela Nossa Senhora da Conceição - Pendotiba, Niterói-RJ (FSSPX). No Sancti Ecclesia, escreve artigos sobre musica/arte sacra.









Mariana de Andrade Luna Miranda é solteira, reside em Embu-SP, tem o ensino médio completo. Frenquenta a Paróquia Cristo Ressuscitado, participa da pastoral da Liturgia e da Juventude. No Sancti Ecclesia escreve artigos sobre Teologia e Liturgia.










Nossos princípios

1. Encontramos na "Política" de Aristóteles um princípio básico da estruturação das sociedades que poderíamos enunciar assim: "As sociedades são o que são suas famílias".

Em outras palavras, a organicidade de uma cidade verdadeiramente humana, tem base na célula familiar, na constituição sadia e estável da instituição familiar. Os erros estruturais que podem afligir uma sociedade são dois: um da dissolução individualista (erro do liberalismo burguês) outro da absorção dos direitos da família pelo Estado (erro do totalitarismo).

A dureza cristalina da família, a nitidez estável de seus contornos é condição essencial de uma sociedade verdadeiramente humana. Daí nossa repulsa pelo divórcio, à luz da razão natural antes mesmo da iluminação da fé. O divórcio é uma reivindicação individualista, anti-social, e por conseguinte anti-humana. O divórcio, como reivindicação individualista, é essencialmente um erro corolário do erro mais geral do liberalismo; mas é também um erro utilizado pelo totalitarismo, apesar da aparente contradição, porque o totalitarismo aparece (como a história o demonstrou) como uma contraditória conseqüência do liberalismo. Em relação à família os dois erros sociais se encontram com a mesma maléfica eficácia; ambos procuram destruir a estabilidade familiar e a indissolubilidade do vínculo; ambos ferem a lei natural do mesmo modo, embora por motivos e em perspectivas históricas diferentes.

2. Um outro princípio, que tiramos de Santo Agostinho na "Cidade de Deus", diz que uma cidade de homens só é verdadeiramente humana quando respira justiça. Fora dessa condição nós teremos um aglomerado de brutos e não uma cidade humana feita à semelhança de Deus. Do mesmo Aristóteles e de Santo Tomás tiramos o conceito derivado de amizade cívica (amicitia), virtude anexa da justiça, virtude essencial, oxigênio vital para o clima de uma cidade verdadeiramente humana.

3. Ora, esses dois princípios são conexos, porque a família, a casa da família é, ou deve ser, o lugar onde se exercita a amizade cívica, o lugar onde se destila, o lugar adequado onde se prepara o elemento essencial ao bom clima humano da cidade. Esse será o nosso terceiro princípio: a família é o lugar adequado para a germinação da justiça; é a fonte da amizade cívica.

4. Avancemos mais um passo. Na situação concreta do mundo, isto é, no caso concreto de uma humanidade decaída e redimida, o problema moral da cidade, mesmo considerado sob o ângulo temporal, deve ser colocado em sub-alternação aos preceitos divinos revelados, ou como diz Maritain, deve ser colocado em termos de uma moral "adequatement prise".

Nessa nova perspectiva ganha singular realce o papel que desempenham as famílias cristãs. Já não se trata somente de estrutura a sociedade com células normais que resistam à lepra do liberalismo ou ao câncer do totalitarismo; trata-se agora de uma regulação muito mais profunda, de uma atuação mais intensa em que a qualidade domina a quantidade.

Eu diria agora, com mais esse dado concreto da verdadeira condição humana, que uma sociedade humana será medida pelo grau de heroísmo de suas famílias cristãs. E esse é o nosso quarto princípio, que apenas traduza, aplicando-as ao problema da estrutura social, as palavras evangélicas tão conhecidas e tão pouco seguidas: "Vós sois o sal da terra".

5. Dirigindo agora a nossa atenção para a concretíssima conjuntura, isto é, pensando no mundo em que vivemos, no momento histórico que atravessamos, eu estenderia aos outros grupos — associações, escolas, sindicatos — o que disse até aqui da família. E aplicaria a esses grupos, proporções guardadas, os mesmos princípios que acabamos de considerar. E por conseguinte, aplicaria aos movimentos católicos — isto é, às associações fundadas com especificação temporal, como por exemplo a C.F.C. [1] — as mesmas conclusões. E diria assim: a sorte das sociedades depende do grau de heroísmo (de autêntico heroísmo cristão) dos movimentos católicos.

Ainda mais, diria que esses movimentos, pelo seu caráter excepcionalmente militante, devem levar ainda mais longe do que qualquer outra instituição cristã o grau de heroísmo necessário à salvação do mundo. Parodiando Winston Churchill, que traduziu a seu modo inglês as palavras de Cristo, eu direi que nunca, na história do mundo, tantos dependeram tanto de tão poucos. E é essa desproporção que nos deve dar a medida do que Deus espera de nós.

6. O nosso sexto princípio tem nexo estreito com o anterior. Se os movimentos católicos, para atuarem no mundo, precisam de uma forte dose de heroísmo cristão, concluímos que devem ter uma base de espiritualidade de onde lhes venha essa força de sobrenatural fecundidade para estímulo e vitalização de suas tarefas de ordem temporal e profana.

Não se trata de trazer para a tarefa especificada por objeto de ordem natural as virtudes infusas que têm por objeto a salvação e a a vida eterna; mas de trazer para a atuação no mundo um grau de liberdade, uma força de heroísmo que só o evangelho pode dar. Em outras palavras nós diremos que só pode atuar no mundo quem puder afirmar praticamente, efetivamente, a transcendência do homem sobre o mundo. Ou ainda: só pode haver obra social, com interesse fervoroso, para quem tiver cursado a escola evangélica do desapego. E esse é o nosso sexto princípio, de capital importância para os movimentos católicos.

(Gustavo Corção, in "A Espiritualidade dos Movimentos Católicos", A Ordem, dezembro de 1951)

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